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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Aí Ray, o que eu te fazia se te pusesse as mãos em cima





Ray Donavan é um daqueles produtos televisivos que tem tudo para dar certo entre homens e mulheres. É assim uma espécie de série unissexo. Tem bons atores para boas personagens, que têm bons diálogos, num clima de tensão, violência, vícios à maneira, solidão qb e, para nós, (ou para quem aprecia homens não demasiado bonitinhos) um extra

terça-feira, 8 de setembro de 2015

The Leftovers: tão bom que dói



Andei a ler umas coisas e houve quem não aguentasse o balanço. Houve logo quem deixasse o barco afundar ao final do primeiro episódio. Mas o barco não afundou, na verdade. Melhor ainda: os responsáveis fizeram a única coisa inteligente: não trabalharam para audiências (essas podem ver as Kardashians) e continuaram em frente conforme os planos, mesmo que, a cada novo episódio, houvesse mais uns tantos que desistissem de suportar aqueles 45 minutos. Ficámos nós, os resistentes a 10 episódios de rebentar com o coração e com os lenços de papel.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

#best of my week

- The LeftoversPara mim o Juatin Throux era apenas o noivo da Jennifer Aniston mas graças a esta série que comecei a ver esta semana descobri que não só tem um grande corpo como é um excelente ator. Liv Tyler aparece porá e com aquele ar de moida ilumina o écrã de cada vez que aparece. Confesso que está longe der ser uma cena light, mas é uma viagem escura que vale a pena fazer: bem filmado, com uim argumeto inteligwente em que a sconexões e revelações das personagems se vãop fazendo em crescemndo, prende-nos, sem saber onde tudo aquilo vai parar, sem saber o que é este mundo que parece tãop iguial não fosse o dia do Desaparecimento. Vou ver os outros episódios a correr. Gosto do tempo que demorarm nas personagens, o amor que lhes deedicam e como vão deixndo em caa um dos episódios elas ganharem forma. Muito, muito bom

Mr Robot: fsociety

Tenho um lado que é do contra desde que me lembro de mim. Não gosto do mundo em que vivemos. Isso não faz de mim, acho, uma pessoa negativa. Tento tirar o máximo partido, prazer, proveito, de tudo. Sentir-me grata pelas coisas boas. Mas não acredito num mundo feito de regras, imposições, desigualdades, formas modernas de escravidão a uma máquina movida pelo interesse de uns poucos, que obrigam os outros, a maioria, a baixar a cabeça e a submeterem-se a injustiças, exploração, créditos a oitenta anos, e outras coisas afins. Penso que há algo profundamente errado num mundo em que 2% detém 90% de toda a riqueza. Existe alguém por aí que partilhe as minhas ansiedades ou o meu espírito de revolta. Há, pelo menos na ficção, que é onde a minha alma tantas vezes encontra consolo. Chama-se Mr Robot e é uma série. Sim,uma série cuja primeira temporada de oito episodios tornou as minhas noites não só mais emocionantes, como inteligentes e questionadoras. Senti que não estava sozinha e não precisava de morfina para partilhar muitas daquelas ideias que atrofiam a mente do jovem e anti-social programador (e hacker) Elliot (Malek) e que é recrutado para uma organização que deseja acabar com as grandes corporações nos Estados-Unidos. O líder é um misterioso anarquista chamado Mr. Robot (Christian Slater).Mais novidades em breve!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Enquanto Somos Jovens: o que resta aos quarentões a não ser ter filhos, hem?




Algumas reflexões… Será que estamos condenados a sermos uns chatos rotineiros quando deixamos de ser jovens (e quando é que isso acontece ao certo?) Será que ter filhos é a única forma de preencher o vazio com a chegada dos 40? Será que todos os representantes da geração X são jovens intelectuais hipsters, adoradores de vinil e de cassetes VHS, que veneram roupas vintage?

Estas questões surgiram quando vi no outro dia, incitada por uma amiga mais velha, o novo filme de Noah Baumbach (realizador que me conquistou com A Lula e a Baleia (2005) e Greenberg (2010)), While We're Yong ('Enquanto Somos Jovens') com Ben Stiller e Naomi Watts, nos papéis principais - logo aí não ia nada contrariada, porque adoro os dois.

#Cenas da vida real



sábado, 15 de agosto de 2015

True Detective: fraquezas e diamantes de uma série que fez o meu coração sofrer





(SPOILER ALERT)

Não é preciso bater mais no ceguinho. Já estou chateada que chegue com aquele final. Atenção - não é um mau final, antes pelo contrário. Mas é que eu, tonta, entusiasmada pela redenção que é oferecida às duas personagens - interpretadas por Matthew McConaughey e Woody Harrelson -, na primeira temporada da série True Detective, guardei até ao fim a esperança numa Salvação, mesmo assim, com letra grande, pelo menos para um dos homens fortes da segunda temporada.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Interstellar: um 'ganda' filme de ficção científica

Não sou fã de ficção científica. Não me aquece nem me arrefece Não acho piada por aí além a nenhum dos novos filmes da saga 'Guerra das Estrelas', excepto os três primeiros, mas isso é porque são já vintage, e para mim o ‘Star Treck' é coisa de geeks. ‘2001 Odisseia no Espaço’, de Kubrick, não qualifica para esta categoria (demasiado conceptual) e ‘Blade Runner’ é, para mim, o ex-líbris do género.
Por isso – e porque não se fazem ‘Blade Runner’ por dá cá aquela palha -, geralmente quando assisto a um exemplar desta natureza, é sempre com um suspiro resignado de lá terá de ser, não podes ser sempre tu a escolher os filmes que se vêem nesta família, mas impossível conter o trauma que me ficou pelo tempo perdido a assistir ao 'Dia da Independência'. 

Por isso mesmo, ‘Interstellar’, com Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, foi um surpresa renovadora da minha esperança na ficção científica, prova absoluta que esta pode ser feito com algo mais do que toda a artilharia pesada dos meios técnicos, efeitos especiais atirados aos nossos olhos e que se esgotam em si mesmos e heróis estereotipados e musculados que vão salvar o mundo com armas e o Armagedão à mistura (atenção que a personagem de Matthew tem também como missão salvar o mundo, mas de herói típico pouco tem – Cooper é mais do estilo hero-next-door). 

O filme podia ter menos vinte minutos, é verdade, e não parece que a narrativa ou o efeito que a história tem em nós (sim, porque somos tocados no coração, piroseira à parte, em algumas cenas pai-filhos) fosse afectada, mas perdoa-se uma certa lentidão em determinadas partes. É que a visão de uma terra a finar-se, envolta em espessas tempestades de pó que contaminam os pulmões e obrigam a uma morte lenta, num cenário negro em que se esgota a comida e a esperança de sobrevivência de toda uma geração, ou a apoteose da viagem de Cooper para uma outra galáxia, em que o tempo se estica quase até ao infinito invertendo a noção de linearidade da física moderna, ou as visões de outros mundos, que nos soam tão realisticamente fantásticos, concebidas pelo realizador Christopher Nolan, ou a magistral interpretação de Matthew McConaughey, que nos redime e dá vontade de partir, de partir e de ficar ao mesmo tempo, partir para vivermos o que desejamos – não para salvar o mundo, porque, antes de mais, o que Cooper quer é viver o sonho de criança de ser astronauta -, e por fim, o argumento, inteligente e humano (como pode um filho envelhecer antes do pai e não enlouquecer?), tornam este um grande, grande filme.







quinta-feira, 18 de junho de 2015

Faltam dois minutos

Estou aqui à espera do sexto episódio da série da Fox, Wayward Pines. Parece que regressei aos eighties mas a espera por algo como um episódio é daqueles bons aguardares que provavelmente tem os dias contados. Mas para já vou é aproveitar antes que se torne uma relíquia. Está quase, quase. Ui.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Como uma renitente no assunto se torna uma mãe... convicta

Fui completamente apanhada na curva com esta história de ter um filho. Vamos começar do princípio: não sou uma children lover. Nunca fui. Sempre me considerei mais uma children runner: onde havia crianças, tinha uma aterradora tentação de debandar, fosse na praia, no hotel, no restaurante. Estridentes, mal-educadas em muitos casos, ou simplesmente… crianças. Não há paciência a não ser em doses muito moderadas, estilo medicamento homeopático. A vida permitia-me, por norma, permanecer afastada dos pequenos seres porque, em obediência à premissa taoista de que semelhante atrai semelhante, as minhas amigas não tinham filhos. A aproximar-se dos quarenta, tal como eu, conservavam-se alegremente (umas mais que outras) livres para se dedicarem a tudo menos a fraldas, a cocós e a noites mal dormidas, o que conduziria inevitavelmente os nossos jantares de gajas  a conversas sobre as fraldas, os cocós e as noites mal dormidas. As poucas crianças que surgiam na minha vida não eram, porém, desprezadas ou nada assim. Mas quando as minhas sobrinhas me pediam para ir vestir a Barbie com elas, suspirava para dentro. Nunca tive paciência para brincar.

Nisto, decidi ter um filho. Estava eu a viver a minha vidinha relativamente descansada quando, um belo dia (foi mesmo assim), aparentemente do nada, a ideia se cruzou comigo, enquanto fazia o meu caminho, com a fúria de uma mão divina. Queres e pronto, arranja-te porque agora não vais conseguir deixar de querer. De um momento para o outro, a ideia não me saia do caminho. Via grávidas na rua e só queria ser eu a estar grávida. Sonhava com uma barriga. Com enjoos e mamas inchadas e isso tudo, enquanto pensava, laconicamente, que a mudança não iria ser assim tão radical, graças à meia dúzia de avós disponíveis para o que desse e viesse. Era uma questão de arranjar um pouco mais de espaço numa agenda já de si preenchida, nada de mais, entre o trabalho, o ginásio e o curso de astrologia. Queria simplesmente ter um filho.

E engravidei.

Não me parecia à partida nada do outro mundo. As mulheres andam a fazê-lo desde que há hominídeos. É só uma questão de arranjar mais espaço na cama e umas roupas largas. Nove meses e uma criança está cá fora e a espécie continua.

Pois bem, um dois três, estás grávida. E o que é que aconteceu? Apaixonei-me. Amei o meu filho antes dele ter pernas, braços, nome. Amei-o no primeiro momento em que o vi (e como era pouco bonito). Pois é verdade que já vivi algumas histórias de amor. Já amei perdidamente, apaixonadamente, fugazmente. Mas nunca amei  de forma tão absoluta. Isso é tão verdade que se torna lugar-comum. Mas eu, que fugia dos lugares-comuns, esbarrei com todos. Foi a biologia a funcionar? Bem, nesse caso funcionou na perfeição, porque soube que nunca, mas nunca, o iria deixar e que matava quem lhe quisesse fazer mal. Soube que não quero mais nada a não ser que a ele seja feliz. Descobri que agora tenho medo da morte porque não quero que ele fique sem mim. Que não quero saber se ele é esperto ou burro, se vai gostar de homens ou de mulheres, se vai querer ser carpinteiro, futebolista ou gestor de empresas. Quero apenas que ele seja feliz. Quero apenas que as gargalhadas, se prolonguem na sua vida, sabendo que o vou amar e que, merda, ele vai sofrer, porque todos sofremos, e essa ideia é terrível. Descobri uma paciência infinita para estar de rabo no meio do chão, o dedo dele a apontar num livro sempre os mesmos bonecos e eu a repetir como um mantra "é o pato, é a galinha có-có-ro-có e ele a rir. E no meio disto tudo,  deixei de conseguir ver filmes onde acontecem coisas más a crianças. Choro como uma Madalena. Fico deprimida e angustiada. Deixei-me disso. Conclusão: as escolhas cinematográficas reduziram-se. Até porque vou menos ao cinema e não é porque não tenha os seis avós disponíveis e tudo o mais. É porque, na grande maioria dos dias, quero ficar com ele. Ir buscá-lo ao final da tarde. Rir-me com ele enquanto lhe faço cócegas. Levá-lo ao parque e dizer-lhe o nome de todas as coisas Sentir os braços dele em redor do meu pescoço. Adormecê-lo com  um história tonta e a fazer-lhe festas no cabelo. Sussurrar: Infinitos. Infinitos de Amor.


E se no final disto tudo ganhei paciência para as crianças? Não, nenhuma. Só para o meu.



quarta-feira, 8 de abril de 2015

#séries: vi o primeiro episódio de CSI: Cyber e não me convenceu nada



Sou fã do CSI, do original e não dos spin offs posteriores, sendo que até guardo um ódio de estimação pelo extinto CSI Miami, com o moralista do Horacio sempre com ar angustiado a dar lições de moral aos criminosos. Mas o primeiro e original (ainda em exibição, na 15ª temporada), esse vi-o todo (ainda o vejo), sendo que, em 2000, quando estreou a primeira temporada mas não passava cá, já tinha uma colega que me emprestava cassetes VHS que o irmão, a morar em Londres, lhe gravava da série e enviava por correio. Tive um fraquinho pelo Grisson, of course, e uma paixão assolapada pelo Warrick, despachado com um tiro às tantas porque a produção já não aguentava os problemas do ator com drogas (e como foi dark esse episódio). Embirrava com a Catherine, talvez pelas mamas empinadas, mas curtia o ar cool da Sara e o sabichão do Nick. Assim sendo, o anúncio do CSI Cyber, com Patricia Arquette no papel da Agente Especial Avery Ryan, fez estremecer o meu pobre coração de curiosidade. Aguardei a estreia do primeiro episódio com mal contida ansiedade e eis que, cinquenta minutos depois, era uma mulher tristonha. Partir de um pressuposto realmente interessante e estragar tudo quando se têm atores e meios à disposição parece sempre tão difícil, apesar de ser tão comum. O motivo pareceu-me apenas um: alguém se tinha esquecido do argumento. Os estereótipos estavam lá todos (isso não e necessariamente mau, porque há sempre um padrão básico em todas as histórias, que as torna familiares, neste caso, numa equipa de investigação, temos a chefe, segura, o seu braço direito, fanfarrão mas eficiente, o puto divertido e por aí fora) mas é preciso depois dar a volta com um argumento inteligente, rápido, de bons diálogos, algum desconcerto e com o inevitável plot twist. Nada. Patricia parecia meio perdida no meio de tantos bytes e nada mostrou (mas como?) do brilhantismo que lhe deu o Óscar de melhor Actriz Secundária este ano, com a sua interpretação em Booyhood (nem sequer a plasticidade da sua personagem na série Medium estava ali). Nostalgia. Sinto nostalgia dos caracteres bem construídos, densos, complexos, com um lado sombra de Grissom e da sua equipa. Dos problemas com jogo de Warrick. Do medo da surdez de Grissom. Do passado de stripper de Catherine. Da mãe homicida de Sara E sim, isso foi construído ao longo das temporadas, mas a chama estava lá desde o início. Não sei o que estão a pensar que vai acontecer, mas assim parece que é mesmo deitar dinheiro pela sanita abaixo…

terça-feira, 7 de abril de 2015

#grandes declarações de amor: a de Tom Cruise em Jerry Maguire



Agora, algo completamente piroso, mas quem é que não gosta de uma boa declaração de amor? Eu, romântica me assumo, e, no meu top 5, a do filme Jerry Maguire, em que a personagem com o mesmo nome, interpretada por Tom Cruise, se declara por fim à namorada - Dorothy, a quem Renée Zellweger dá a pele - no meio de uma sala cheia de mulheres estranhas à situação (lembremos que o amor é sempre urgente) ocupa definitivamente posição de destaque. Convenhamos que aquele 'you complet me' dá cabo de qualquer mulher (mesmo se não fosse o Tom a dizer).

Porque é que o Birdman não merecia o Óscar

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Nestas coisas do cinema, há opiniões e opiniões e nada mais do que isso, opiniões. Mas opinar é também um desporto nacional e permitido por lei (Graças a Deus) por isso aqui vai disto, mesmo antes do fim-de-semana: é que o filme 'Birdman', sem ser um mau filme, realizado por Alejandro Gonzalez Inarritu, não devia ter ganho o Óscar de Melhor Filme. O maior dos seus vícios é ser uma comédia negra falsamente intelectual, com verniz até ao tutano da sua própria unha, como as deambulações interiores e espirituais da personagem de Keaton, Riggan Thomson,  as filmagens 'tortas' de modo a tornar Emma Stone (como se isso alguma vez fosse possível) disforme e feia (afinal, é uma ex-viciada), os efeitos especiais de Birdman a voar pela cidade de Nova Iorque e as sequências com mais de 10 minutos a provar que o realizador é, além de um génio criativo, um prodígio da técnica.Mas também porque ir buscar um ator que foi outrora uma estrela e que está agora na prateira, há semelhança de Mickey Rourke no 'The Wreatler', para fazer a personagem de um ator que foi outrora uma estrela de blockbusters e agora está na prateleira, é demasiado óbvio e desnecessário. E porque não deram a Edward Norton uma personagem com um final à altura. Na verdade, ele desaparece de cena antes no fim, pois a conclusão óbvio era que, se continuasse em cena, iria fazer o mesmo que fez durante o resto do filme: esvaziar Keaton de qualquer protagonismo porque onde ele está, não está mais ninguém (ok, com excepção da Emma, mas a miúda tem garra). Por fim... mas que final é aquele? Ou bem que acabava com o tiro, ou bem que Riggan se tornava, não uma estrela do teatro sério, porque aí tinha mesmo afundado, mas uma estrela pop à semelhança das Kim Kardashians deste mundo, celebridades de redes sociais e esvaziadas de tudo o mais. Inarritu quis um final feliz e deu-se mal.

Lost in Translation: não interessa nada o que Bill Murray diz a Scarlett Johansson

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Um dos motivos porque ‘Lost in Translation’ (2003), de Sofia Coppola é um dos filmes da minha vida é porque é sobre a solidão. Ou não nos sentirmos amados, o que é basicamente a mesma coisa. Outra, é porque não nos mostra tudo. Não tem de mostrar.

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A cortina não se abre inteiramente sobre as duas personagens interpretadas por Scarlett Johansson e Bill Murray, o mais imprevisto e inspirado dos casais que se conhece numa caótica, só, claustrofóbica cidade de Tóquio. Ela é Charlotte, recém-casada com um fotógrafo e posta de parte pelo marido, que tem como prioridade a profissão, e que´, sem saber muito bem o que quer fazer da vida, se vê sozinha num quarto de hotel impessoal na grande cidade (mas poderia ser em qualquer cidade, em qualquer casa, o hotel é apenas o símbolo de uma solidão profunda, da incapacidade de comunicar, de criar ponte, e Tóquio o lugar onde a comunicação é impossível, porque mesmo na tradução, algo se perde sempre). Ele é Bob Harris, uma estrela de cinema de meia-idade a entrar em decadência, de olhos profundamente tristes e que faz dos bares a sua segunda casa, vendendo-se por dois milhões de dólares a uma marca de uísque. Duas solidões que se cruzam e constroem uma relação inesperada, duas pessoas que, noutro contexto, o dito ‘normal’, passariam sem se olhar uma única vez. Mas na necessidade de afugentar a solidão, num país onde a língua é uma barreira incontornável e nos rostos nada há de reconhecível, eles criam um laço, que cresce sem nada ser dito sobre isso e o facto de não nos ser revelado tudo condensa-se no final e aí está criado um dos mitos da história do cinema: é que Bill Murray vai ao encontro de Scarlett, no meio de uma rua de Tóquio, chama-a, abraça-a e… diz-lhe algo ao ouvido. Pormenor: nós não conseguimos perceber o que é. Depois eles afastam-se e cada um segue o seu caminho. Muitos não ficaram satisfeitos, quiseram compreender, fechar a narrativa, eles ficam juntos ou não, com irritação à mistura, quem não quer o happy end, ele volta no fim, toma-a nos braços e ficam felizes para sempre, mas desta vez não, apenas aquelas palavras só deles, talvez porque se ‘traduzidas’ algo se perdesse no caminho. O que não faltam no youtube são muitos resistentes ao desconhecido, que fazem tentativas de conseguir recuperar as palavras sussurradas ao ouvido, mas isso não interessa nada. Seja o que for, é bom. Vemos nos dois rostos que se iluminam. Vemos no beijo que encontra espaço a seguir para existir. Se há um futuro para eles os dois juntos ou não, percebemos que eles já não são os mesmos, foram tocados um pelo outro e nos seus rostos compreendemos que essa foi uma experiência que mudou o mundo. Gosto de coisas que não são reveladas de forma óbvia. De filmes que amam tanto as suas personagens que nos metem a nós, espectadores, na ordem, que não nos mostram o que não é suposto descobrir. O final de cada história de amor pertence apenas, nos filmes e na vida real, à nossa imaginação. O que seria de nós nas nossas vidas se soubéssemos o fim das nossas histórias de amor?lost1.jpg

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Nightcrawler: a violência gráfica das notícias existe porque nós a vemos.. ou estarei errada?




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Ver Jake Gyllenhaal a fazer de psicopata armado em repórter da 'vida real'  (de forma brilhante, já agora) é muito perturbador. Ele filma sangue e mais sangue e filma-o sem pingo de emoção. Pois, já sei, Nightcrawler é um filme, nada daquilo é real, etc e tal, mas se não é podia ser. Quer dizer, basta olhar à nossa volta e ver como as personalidades psicopatas andam por todo o lado - e não, não é preciso ser um serial killer para ascender a essa condição, estamos apenas a ser induzidos em erro por séries como Mentes Criminosas, Os Seguidores ou Hannibal.

A incapacidade de sentir empatia pelo outro ser humano é muito mais comum do que pensamos. Isso é, em muitos casos, o segredo para o sucesso e não para a prisão. Não é apenas no caso da personagem interpretada por Jake que sentir pena, compaixão ou amor se revelam graves entraves à obtenção do que se convencionou chamar sucesso.Louis Bloom , a personagem principal de Nightcrawler, é fixado nos seus objectivos, que passam de passar de um ladrão de meia tijela para se tornar num magnata de conteúdos vídeos do mais gráficos que pode haver, numa corrida a raptos, carjacking, triplos homicídios, violações, incêndios, tiroteios, medidos pela quantidade de sangue despendida pelas vítimas e pela proximidade da câmara sobre os cadáveres. O facto de ele não sentir qualquer tipo de escrúpulo - mas mesmo nenhum - dá-lhe no final vantagem sobre os já poucos escrupulosos competidores, que acabam por tornar objecto de notícia, ou seja, vítimas do seu próprio veneno (sim, Louis dá-lhes tratamento especial).

Ora o que não faltam por aí são casos desses, nomeadamente no meio político. A falta de empatia pelo outro leva os membros dessa classe profissional a, sem pestanejar, enveredar por um percurso que visa o sucesso – pelo menos, o que eles entendem como sucesso - sendo que o preço a pagar é pago pelos outros, chamando-se em muitos casos pobreza mesmo, da real, não da fictícia. Porém essa vertente do seu trabalho é completamente esquecido pela forma obcecada como alguns políticos se focam no seu sucesso pessoal e profissional, que passa por estarem nas boas graças de uns senhores que falam alemão ou das administrações de grandes empresas para onde vão trabalhar a seguir a terem, supostamente, trabalhado para o "bem público”.

Mas há mais: há o director que nem sabe o nome de quem trabalha sob as suas ordens e que recebe milhares de euros por mês, alimentado por quem ganha o salário mínimo e tem de contar os tostões para pagar as contas mais básicas, há o funcionário que responde torto ao reformado porque não tem paciência para velhos, há o médico que adia o parto para o turno seguinte porque é sexta à noite e não quer ter trabalho ou que faz o diagnóstico a dois metros de distância do paciente, como se este tivesse lepra, há o empregado bancário que se derrete para o engravatado e que olha com desdém para o outro, modestamente vestido, há o condutor que abre a janela, chama nomes, vai atrás, ameaça bater porque não arrancámos mal o sinal ficou verde. No final do dia, vão para casa e são excelentes pais e maridos e amigos. Porém, não há algo de errado em quem só é capaz de se conectar com ‘os seus’? Não há algo perturbante quando os outros são colocados do outro lado do vidro, como peixes num aquário, e que se lixem que não tenho de pensar nisso? Não há algo de errado numa sociedade em que o individualismo e o sucesso são apresentados como valores essenciais? Mas mais ainda: numa sociedade de homens e mulheres (e adolescentes) que retira prazer em que aquelas mesmas imagens de violência  que Louis Bloom filma sem um pingo de emoção? Louis Bloom existe porque existe uma multidão ávida por consumir violência. E o que é que tudo isso faz de nós a não ser não pequenos psicopatas nos nossos pequenos mundos, entretidos a ver a tragédia alheia e a achar que aquilo é tão bom porque só acontece aos outros?

Bem, seja como for, Nightcrawler é um grande filme.

quinta-feira, 5 de março de 2015

#filmes: Foxcather: quem é este louco?

Ora aí está um bom filme mas que é também uma grande seca de filme (mas vamos dizê-lo baixinho porque os intelectuais adoraram a cena). É sempre um contentamento olhar para Channing Tatum – constantemente aquele tipo de homem que é um prazer mirar, mas que nunca queremos realmente que abra a boca, o que realmente não acontece muito neste filme – e ver o bravura com que ele trabalha e trabalha e trabalha para transformar-se num ator à séria, esperando que não lhe aconteça o mesmo que ao Stallone, e a verdade é que se sai bem na fotografia apesar dos recursos dramáticos requeridos para interpretar esta personagem não tenham de ser as de um Edward Norton (achei-o bem melhor em Magic Mike, a fazer de si próprio, como stripper musculado a que batem à porta angústias de ser algo mais do que um corpo – e que corpo).

Channing em Foxcather é todo ele drama interior, dado que Marck Schultz, a personagem, é de muitas poucas palavras, bem como a de  Mark Ruffalo,  que faz de irmão mais velho, e cujo trabalho é todo under acting, voz baixa, gestos pausados, rosto de menino bonito escondido por detrás da barba espessa. No meio disto tudo, anda o louco varrido em cena (basicamente num enorme palacete à família da aristocracia norte-americana), interpretado por  Steve Carell  no papel de John E. du Pont – confesso que só descobrir que era ele no final, o que foi um choque -, e que é, sem sombra de duvida, o mais interessante em Foxcather, nas suas nuances de inseguro menino da mamã a complexado homem de reduzidas capacidades físicas a quem adivinhamos uma pila pequena, de proto-nazi infantil a brincar com armas a psicopata encartado, mas no final não são sempre os doidos que sobressaem? Agora, desconcertante também foi saber, mesmo no genérico final, que aquela cena toda aconteceu mesmo, há vinte anos atrás. Ou seja, há vídeos no youtbe de todas aquelas personagens, mas sem ser como personagens O filme é realizado por Bennett Miller (uma vénia por ‘Capote’ mas comPhilip Seymour Hoffman, quem podia fazer um mau filme), e baseado no livro de Mark Schultz , a personagem de Channing, e conta a relação deste com o multimilionário americano que decidiu ser o dono, senhor, pai, inspirador e treinador de uma equipa de luta livre, preparando-a para os Jogos Olímpicos, sendo que Foxcather era o nome da mesma.
Tudo no filme é cinzento (não negro), contenção, performance e… Bem, no final quis foi ir ver quem era o original John E. du Pont  e descobri que ele andava mesmo na mesma figura ridícula com que um corcovado Carell surge no filme: em fato de treino:

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

#momentos para não pensar (muito): O Mentalista, pois então

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Sabe bem não ter de fazer qualquer esforço mental para acompanhar as imagens no ecrã. Tenho em lugar especial do meu coração as séries que me permitiram ser feliz, simplesmente porque não me exigiam qualquer esforço e me fazia abstrair durante 40 e tal minutos de tudo e mais alguma coisa há minha volta. Não são obras primas. Não vão ficar para a história. Não têm desempenhos excepcionais. Mas não podemos viver sempre em êxtase. É o mesmo que a paixão: em estado contínuo, dava cabo de nós. Pelo meio, precisamos dos momentos tranquilos, em que as emoções estão em velocidade cruzeiro. Estas séries são a minha velocidade cruzeiro ao final de dias em que tenho o cérebro queimado. Por isso mesmo, O Mentalista, que está a chegar ao fim, já me deixa saudades. Porque o tempo torna as personagens familiares e acabamos por criar laços (não, não sou louca).
A série não tem absolutamente nada de especial. A não ser aquela chávena de chá sacramental. E o facto de Simon, personagem principal, ter ganho a vida como vidente, até que se redimiu, assumiu que era tudo falso e coloca as suas habilidades ao serviço dos bons. O resto é lugar-comum: Simon Baker como Patrick Jane, um detective e consultor independente do  California Bureau of Investigation (CBI) e Robin Tunney como a detective Teresa Lisbon, que de inicio resiste abertamente a ter Jane na sua unidade, dado que não cumpre ordens, é teatral e narcisista e não conhece limites. Afinal, é um homem acossado por uma tragédia que apenas junta forças com a polícia para encontrar o responsável pela morte da sua mulher e filha (claro que depois se revela um bom rapaz que quer sempre apanhar os maus da fita). E vão cinco temporadas. Missão atingida, há espaço para um afastamento de Patrick e da detective Lisbon, que culmina no final da 6º temporada com uma declaração mútua de amor. Para rematar, a 7ª e última mostra os dois, já enquanto casal, a tentarem fazer com que relação resulte. Falta-me ver o último episódio mas já adivinho bebés a caminho. Não imaginam como isso me deixa contente!

sábado, 21 de fevereiro de 2015

#filmes: Boyhood (2014) ou a inveja das boas ideias

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O passar do tempo no cinema é área de maquilhadores e caracterizadores ou então presume achar uma criança que saiba representar e um actor adulto que venda bilhetes, partilhando os olhos azuis e um ar arruivado, de modo a tornar plausível o salto vinte anos no tempo. As boas ideias são, tenho para mim, aquelas que nos suscitam a exclamação de pasmo "mas porque raio é que nunca ninguém antes se lembrou disto antes!". Concretizadas, parecem-nos até um pouco básicas, mas se o fossem… bem, alguém se teria lembrado disso antes.
A simplicidade das boas ideias é absolutamente desarmante. No cinema, Richard Linklater roubou-nos as defesas quando teve a boa-mas-porque-é-que-ninguém-se-lembro-disso.antes-ideia de pegar num pequeno grupo de actores e lançar-lhes o desafio (ai que raiva): se estiverem livres nos próximos 12 anos podemos fazer um filme, Boyhood de seu nome. Patricia Arquette, sim, a dos espíritos, e Ethan Hawke, o ex da Uma e para sempre o puto de 'O Clube dos Poetas Mortos', disseram logo que sim, porque não era preciso ter dois palmos de testa para perceber que se ia fazer história. Á família jntaram-se dois putos, um deles a filha do próprio realizador, Lorelei Linklater, (assim o pai tinha a certeza que ela ia faltar à escola duas semanas por ano).
Doze anos depois e mais uns pozinhos, o realizador de 'Antes do Amanhecer' – e que andou a brinca aos saltos no tempo com a trilogia composta com ‘Depois do Anoitecer’ e ‘Antes da Meia-Noite’ - apresentou ao mundo a sua 'visão': um filme que mostra o tempo. O primeiro filme que mostra o tempo. O passar do tempo. As rugas a surgirem no rosto de Ethan, as formas a arredondarem-se no de Patricia e perante os nossos olhos, em duas horas e meia, vemos duas crianças tornarem-se (realmente) adultos. Eles não uns sósias encontrados em castings e relativamente 'parecidos'. Falamos das próprias duas crianças que se transformam e eis que a miúda tem mamas e o rapaz pelos de barba e o pai deles converte-se a uma vida regrada e a mãe vai-se abaixo no momento em que abandonam o ninho. E que história extraordinária filma Linklater? Calma, é que as boas ideias geralmente chegam aos pares. Não é um thriller em três actos, em que a família tem de atravessar os Estados Unidos na route 66 a fugir de um psicopata porque o pai é na verdade um espião que tem os planos secretos de Putin para a Ucrânia e a sua vontade de conquistar o mundo. Não há um mapa do tesouro, não há abusos sexuais, crimes violentos, não há deambulações filosóficas, revelações místicas (julgo que sob o efeito de um bolo de haxice não conta), acasos opulentos, destinos extraordinários. Linklater filma a vida. Filma o ‘não-extraordinário”’ Ponto final. Do ponto de vista de um puto de 6 anos (Ellar Coltrane), sendo que cada ‘episódio’ corresponde a um ano da sua vida. E a sua vida, a dos seus pais, podia ser a de qualquer um de nós, nas suas pequenas e quotidianas revelações, zangas, desilusões, silêncios desencontros, encontros, primeiros amores, casamentos que não dão certo, sonhos abortados, sonhos realizados. E filmada por Richard, a vida é simplesmente o mais belo dos argumentos. Ou seja, a nossa vida é o mas belo dos argumentos.

#filmes: Whiplash ou nada de novo a não ser J.K.Simmons

whiplash

Já vi isto antes. mas que se lixe:  J.K. Simmons é brutal em Whiplash. Estou a usar linguagem adolescente dos anos noventa, década em que fui de facto adolescente, por isso quando o digo é mesmo de forma... brutalmente sentida, mas mesmo assim fica tudo muito aquém do que é possível dizer para uma interpretação que vale o filme todinho, do príncipio ao fim. Quando digo que já vimos antes, estou a referir-me a filmes que vivem de um só personagem - Tom Hanks foi perito nisso desde 'Forest Gump' - até aqueles que se focam no conflito entre duas personagens - um geralmente é o vampiro emocional ou o provocador e exigente chefe ou professor que depois até se revela fixe e o outro o jovem a fazer o caminho de autodescoberta blá blá blá, como no caso de 'O Clube dos Poetas Mortos' ou de 'Nascido para Matar',  sendo que o resultado é sempre o rapaz acabar por saber quem é, cumprir o seu caminho, superar limites and so on. Nada de novo aqui, com Whiplash, mas feito de forma escorreita pelo jovem estreante realizador de 30 anos, Damien Chazelle.

Whiplash  transfere o 'confronto' para o universo do jazz, mais concretamente de um jovem aspirante a baterista (Miles Teller) e o seu professor, um violento, psicótico, audaz, drenante  J.K. Simmons (o facto de ter sido nomeado para melhor actor secundário e não para principal por esta prestação no caso dos Óscares só se justifica porque a Academia não percebe mesmo nada de cinema e andou a prová-lo estes anos todos). O suor do jovem (passa o tempo todo a suar neste filme) não é nada comparado com a interpretação visceral de Simmons no papel do professor Terence Fletcher, que na ânsia de alcançar a perfeição, é capaz de ultrapassar todos os limites para retirar a melhor prestação dos seus alunos, mesmo que, pelo caminho, alguns fiquem mesmo a bater mal da cabeça. Mas para Simmons, um valor mais alto se alevanta face ao amor pelo jazz e nada o trava na demanda.  
Podemos de facto já ter visto isto antes, com outras roupagens, mas não tínhamos visto nunca Simmons a transcender-se enquanto actor e a conseguir redimir-se de todas as maldades na cena final, sem que haja um pingo de moralismo. Simmons é mesmo mau e no mau é mesmo muito, muito bom.