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terça-feira, 8 de setembro de 2015

The Leftovers: tão bom que dói



Andei a ler umas coisas e houve quem não aguentasse o balanço. Houve logo quem deixasse o barco afundar ao final do primeiro episódio. Mas o barco não afundou, na verdade. Melhor ainda: os responsáveis fizeram a única coisa inteligente: não trabalharam para audiências (essas podem ver as Kardashians) e continuaram em frente conforme os planos, mesmo que, a cada novo episódio, houvesse mais uns tantos que desistissem de suportar aqueles 45 minutos. Ficámos nós, os resistentes a 10 episódios de rebentar com o coração e com os lenços de papel.




‘The Leftovers’, da HBO, não é uma série leve. Não é uma série que intercale o lado mais pesado com alguns momentos que ajudam a ganhar forças para o que se segue. Não há momentos divertidos. Não há momentos mais light. Não há tempo para recuperar. São 10 episódios inteiros de sofrimento. De personagens arrasadas, autodestrutivas, obcecadas, fechadas em si, na sua dor, na incapacidade de viver assim, de estender a mão, de compreender, de dar sentido ao luto. São 10 episódios de vidas em que não há espaço para sorrir. Nem um bocadinho. É preciso ter mais estômago, parece-me a mim, para ver isto do que Hannibal. No Hannibal e outras que tais, fecham-se os olhos nas cenas de sangue, mas no caso dos The Leftovers, teríamos de fechar os olhos o tempo todo, porque não há personagem da comunidade de Mapleton, nos arredores de Nova Iorque, que não tenha o coração a sangrar desalmadamente e a alma em carne viva.


Este é o regresso inspirado do criador de Lost, Damon Lindelof, e do escritor Tom Perrotta, que adaptaram para televisão o livro com o mesmo nome, de Perrotta. A premissa é completamente X-Files. Um dia - 14 de Outubro - 2% da população mundial desaparece. Puff. 140 milhões de pessoas vão se sem deixar rasto. Estão lá e no segundo seguinte não estão. Mulheres, homens, crianças. Desaparecem de forma violeta e aleatoriamente. Aquele perde um filho. O outro o marido. A outra a família toda. Parece pouco, o número 2, mas 140 milhões de pessoas tocam em toda a gente. Não há ninguém que não perca ninguém. Não há ninguém cuja vida não mude. Mas o que se terá passado, que evento estranho foi aquele, para onde foram aquelas pessoas, não interessa nada, pelo menos nesta primeira temporada. O que interessa são todos aqueles que ficam. Como se luta com a perda? Como se lida com o luto da ausência, em que não há sequer um corpo para enterrar? Como se refaz uma vida a partir deste momento?

Justin Theroux, Amy Brenneman, Christopher Eccleston, Liv Tyler, Chris Zylka, Margaret Qualley, Ann Dowd e Carrie Coon são os atores que dão corpo às personagens que lidam, cada uma à sua maneira, com o facto do mundo ter deixado de fazer sentido. Uns embarcam numa estranha seita que não quer que ninguém esqueça, outros viram-se para Deus, há quem embarque em puro niilismo e há sempre quem dê um tiro na cabeça. O sofrimento, esse, persiste de episódio para episódio, como a personagem mais forte de todas (excepção de Wayne, mas esse morre no fim). The Leftovers é mais do que uma série, é uma experiência que nos faz pensar em temas como a morte, a perda, Deus e o Inferno, o que fazemos aqui, para onde vamos e porque estamos a submeter-nos, por nossa livre vontade, àquele sofrimento. Resposta: é uma série inteligente. É uma série que alimenta o cé
rebro e a alma. E só isso é tanta coisa que vou ali buscar os lenços de papel e vou lá de novo.
Ps: season 2 estreia em Outubro!


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