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quarta-feira, 8 de abril de 2015

#séries: vi o primeiro episódio de CSI: Cyber e não me convenceu nada



Sou fã do CSI, do original e não dos spin offs posteriores, sendo que até guardo um ódio de estimação pelo extinto CSI Miami, com o moralista do Horacio sempre com ar angustiado a dar lições de moral aos criminosos. Mas o primeiro e original (ainda em exibição, na 15ª temporada), esse vi-o todo (ainda o vejo), sendo que, em 2000, quando estreou a primeira temporada mas não passava cá, já tinha uma colega que me emprestava cassetes VHS que o irmão, a morar em Londres, lhe gravava da série e enviava por correio. Tive um fraquinho pelo Grisson, of course, e uma paixão assolapada pelo Warrick, despachado com um tiro às tantas porque a produção já não aguentava os problemas do ator com drogas (e como foi dark esse episódio). Embirrava com a Catherine, talvez pelas mamas empinadas, mas curtia o ar cool da Sara e o sabichão do Nick. Assim sendo, o anúncio do CSI Cyber, com Patricia Arquette no papel da Agente Especial Avery Ryan, fez estremecer o meu pobre coração de curiosidade. Aguardei a estreia do primeiro episódio com mal contida ansiedade e eis que, cinquenta minutos depois, era uma mulher tristonha. Partir de um pressuposto realmente interessante e estragar tudo quando se têm atores e meios à disposição parece sempre tão difícil, apesar de ser tão comum. O motivo pareceu-me apenas um: alguém se tinha esquecido do argumento. Os estereótipos estavam lá todos (isso não e necessariamente mau, porque há sempre um padrão básico em todas as histórias, que as torna familiares, neste caso, numa equipa de investigação, temos a chefe, segura, o seu braço direito, fanfarrão mas eficiente, o puto divertido e por aí fora) mas é preciso depois dar a volta com um argumento inteligente, rápido, de bons diálogos, algum desconcerto e com o inevitável plot twist. Nada. Patricia parecia meio perdida no meio de tantos bytes e nada mostrou (mas como?) do brilhantismo que lhe deu o Óscar de melhor Actriz Secundária este ano, com a sua interpretação em Booyhood (nem sequer a plasticidade da sua personagem na série Medium estava ali). Nostalgia. Sinto nostalgia dos caracteres bem construídos, densos, complexos, com um lado sombra de Grissom e da sua equipa. Dos problemas com jogo de Warrick. Do medo da surdez de Grissom. Do passado de stripper de Catherine. Da mãe homicida de Sara E sim, isso foi construído ao longo das temporadas, mas a chama estava lá desde o início. Não sei o que estão a pensar que vai acontecer, mas assim parece que é mesmo deitar dinheiro pela sanita abaixo…

terça-feira, 7 de abril de 2015

#grandes declarações de amor: a de Tom Cruise em Jerry Maguire



Agora, algo completamente piroso, mas quem é que não gosta de uma boa declaração de amor? Eu, romântica me assumo, e, no meu top 5, a do filme Jerry Maguire, em que a personagem com o mesmo nome, interpretada por Tom Cruise, se declara por fim à namorada - Dorothy, a quem Renée Zellweger dá a pele - no meio de uma sala cheia de mulheres estranhas à situação (lembremos que o amor é sempre urgente) ocupa definitivamente posição de destaque. Convenhamos que aquele 'you complet me' dá cabo de qualquer mulher (mesmo se não fosse o Tom a dizer).

Porque é que o Birdman não merecia o Óscar

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Nestas coisas do cinema, há opiniões e opiniões e nada mais do que isso, opiniões. Mas opinar é também um desporto nacional e permitido por lei (Graças a Deus) por isso aqui vai disto, mesmo antes do fim-de-semana: é que o filme 'Birdman', sem ser um mau filme, realizado por Alejandro Gonzalez Inarritu, não devia ter ganho o Óscar de Melhor Filme. O maior dos seus vícios é ser uma comédia negra falsamente intelectual, com verniz até ao tutano da sua própria unha, como as deambulações interiores e espirituais da personagem de Keaton, Riggan Thomson,  as filmagens 'tortas' de modo a tornar Emma Stone (como se isso alguma vez fosse possível) disforme e feia (afinal, é uma ex-viciada), os efeitos especiais de Birdman a voar pela cidade de Nova Iorque e as sequências com mais de 10 minutos a provar que o realizador é, além de um génio criativo, um prodígio da técnica.Mas também porque ir buscar um ator que foi outrora uma estrela e que está agora na prateira, há semelhança de Mickey Rourke no 'The Wreatler', para fazer a personagem de um ator que foi outrora uma estrela de blockbusters e agora está na prateleira, é demasiado óbvio e desnecessário. E porque não deram a Edward Norton uma personagem com um final à altura. Na verdade, ele desaparece de cena antes no fim, pois a conclusão óbvio era que, se continuasse em cena, iria fazer o mesmo que fez durante o resto do filme: esvaziar Keaton de qualquer protagonismo porque onde ele está, não está mais ninguém (ok, com excepção da Emma, mas a miúda tem garra). Por fim... mas que final é aquele? Ou bem que acabava com o tiro, ou bem que Riggan se tornava, não uma estrela do teatro sério, porque aí tinha mesmo afundado, mas uma estrela pop à semelhança das Kim Kardashians deste mundo, celebridades de redes sociais e esvaziadas de tudo o mais. Inarritu quis um final feliz e deu-se mal.

Lost in Translation: não interessa nada o que Bill Murray diz a Scarlett Johansson

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Um dos motivos porque ‘Lost in Translation’ (2003), de Sofia Coppola é um dos filmes da minha vida é porque é sobre a solidão. Ou não nos sentirmos amados, o que é basicamente a mesma coisa. Outra, é porque não nos mostra tudo. Não tem de mostrar.

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A cortina não se abre inteiramente sobre as duas personagens interpretadas por Scarlett Johansson e Bill Murray, o mais imprevisto e inspirado dos casais que se conhece numa caótica, só, claustrofóbica cidade de Tóquio. Ela é Charlotte, recém-casada com um fotógrafo e posta de parte pelo marido, que tem como prioridade a profissão, e que´, sem saber muito bem o que quer fazer da vida, se vê sozinha num quarto de hotel impessoal na grande cidade (mas poderia ser em qualquer cidade, em qualquer casa, o hotel é apenas o símbolo de uma solidão profunda, da incapacidade de comunicar, de criar ponte, e Tóquio o lugar onde a comunicação é impossível, porque mesmo na tradução, algo se perde sempre). Ele é Bob Harris, uma estrela de cinema de meia-idade a entrar em decadência, de olhos profundamente tristes e que faz dos bares a sua segunda casa, vendendo-se por dois milhões de dólares a uma marca de uísque. Duas solidões que se cruzam e constroem uma relação inesperada, duas pessoas que, noutro contexto, o dito ‘normal’, passariam sem se olhar uma única vez. Mas na necessidade de afugentar a solidão, num país onde a língua é uma barreira incontornável e nos rostos nada há de reconhecível, eles criam um laço, que cresce sem nada ser dito sobre isso e o facto de não nos ser revelado tudo condensa-se no final e aí está criado um dos mitos da história do cinema: é que Bill Murray vai ao encontro de Scarlett, no meio de uma rua de Tóquio, chama-a, abraça-a e… diz-lhe algo ao ouvido. Pormenor: nós não conseguimos perceber o que é. Depois eles afastam-se e cada um segue o seu caminho. Muitos não ficaram satisfeitos, quiseram compreender, fechar a narrativa, eles ficam juntos ou não, com irritação à mistura, quem não quer o happy end, ele volta no fim, toma-a nos braços e ficam felizes para sempre, mas desta vez não, apenas aquelas palavras só deles, talvez porque se ‘traduzidas’ algo se perdesse no caminho. O que não faltam no youtube são muitos resistentes ao desconhecido, que fazem tentativas de conseguir recuperar as palavras sussurradas ao ouvido, mas isso não interessa nada. Seja o que for, é bom. Vemos nos dois rostos que se iluminam. Vemos no beijo que encontra espaço a seguir para existir. Se há um futuro para eles os dois juntos ou não, percebemos que eles já não são os mesmos, foram tocados um pelo outro e nos seus rostos compreendemos que essa foi uma experiência que mudou o mundo. Gosto de coisas que não são reveladas de forma óbvia. De filmes que amam tanto as suas personagens que nos metem a nós, espectadores, na ordem, que não nos mostram o que não é suposto descobrir. O final de cada história de amor pertence apenas, nos filmes e na vida real, à nossa imaginação. O que seria de nós nas nossas vidas se soubéssemos o fim das nossas histórias de amor?lost1.jpg

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Nightcrawler: a violência gráfica das notícias existe porque nós a vemos.. ou estarei errada?




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Ver Jake Gyllenhaal a fazer de psicopata armado em repórter da 'vida real'  (de forma brilhante, já agora) é muito perturbador. Ele filma sangue e mais sangue e filma-o sem pingo de emoção. Pois, já sei, Nightcrawler é um filme, nada daquilo é real, etc e tal, mas se não é podia ser. Quer dizer, basta olhar à nossa volta e ver como as personalidades psicopatas andam por todo o lado - e não, não é preciso ser um serial killer para ascender a essa condição, estamos apenas a ser induzidos em erro por séries como Mentes Criminosas, Os Seguidores ou Hannibal.

A incapacidade de sentir empatia pelo outro ser humano é muito mais comum do que pensamos. Isso é, em muitos casos, o segredo para o sucesso e não para a prisão. Não é apenas no caso da personagem interpretada por Jake que sentir pena, compaixão ou amor se revelam graves entraves à obtenção do que se convencionou chamar sucesso.Louis Bloom , a personagem principal de Nightcrawler, é fixado nos seus objectivos, que passam de passar de um ladrão de meia tijela para se tornar num magnata de conteúdos vídeos do mais gráficos que pode haver, numa corrida a raptos, carjacking, triplos homicídios, violações, incêndios, tiroteios, medidos pela quantidade de sangue despendida pelas vítimas e pela proximidade da câmara sobre os cadáveres. O facto de ele não sentir qualquer tipo de escrúpulo - mas mesmo nenhum - dá-lhe no final vantagem sobre os já poucos escrupulosos competidores, que acabam por tornar objecto de notícia, ou seja, vítimas do seu próprio veneno (sim, Louis dá-lhes tratamento especial).

Ora o que não faltam por aí são casos desses, nomeadamente no meio político. A falta de empatia pelo outro leva os membros dessa classe profissional a, sem pestanejar, enveredar por um percurso que visa o sucesso – pelo menos, o que eles entendem como sucesso - sendo que o preço a pagar é pago pelos outros, chamando-se em muitos casos pobreza mesmo, da real, não da fictícia. Porém essa vertente do seu trabalho é completamente esquecido pela forma obcecada como alguns políticos se focam no seu sucesso pessoal e profissional, que passa por estarem nas boas graças de uns senhores que falam alemão ou das administrações de grandes empresas para onde vão trabalhar a seguir a terem, supostamente, trabalhado para o "bem público”.

Mas há mais: há o director que nem sabe o nome de quem trabalha sob as suas ordens e que recebe milhares de euros por mês, alimentado por quem ganha o salário mínimo e tem de contar os tostões para pagar as contas mais básicas, há o funcionário que responde torto ao reformado porque não tem paciência para velhos, há o médico que adia o parto para o turno seguinte porque é sexta à noite e não quer ter trabalho ou que faz o diagnóstico a dois metros de distância do paciente, como se este tivesse lepra, há o empregado bancário que se derrete para o engravatado e que olha com desdém para o outro, modestamente vestido, há o condutor que abre a janela, chama nomes, vai atrás, ameaça bater porque não arrancámos mal o sinal ficou verde. No final do dia, vão para casa e são excelentes pais e maridos e amigos. Porém, não há algo de errado em quem só é capaz de se conectar com ‘os seus’? Não há algo perturbante quando os outros são colocados do outro lado do vidro, como peixes num aquário, e que se lixem que não tenho de pensar nisso? Não há algo de errado numa sociedade em que o individualismo e o sucesso são apresentados como valores essenciais? Mas mais ainda: numa sociedade de homens e mulheres (e adolescentes) que retira prazer em que aquelas mesmas imagens de violência  que Louis Bloom filma sem um pingo de emoção? Louis Bloom existe porque existe uma multidão ávida por consumir violência. E o que é que tudo isso faz de nós a não ser não pequenos psicopatas nos nossos pequenos mundos, entretidos a ver a tragédia alheia e a achar que aquilo é tão bom porque só acontece aos outros?

Bem, seja como for, Nightcrawler é um grande filme.