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domingo, 13 de março de 2016

Porque não aguento o feminismo (e as capazes deste mundo)

Esta cena do feminismo irrita-me. E por isso decidi, tal como a Alice, deixar-me de preguiças e entrar afoita na toca do coelho, em busca do que me provocava comichões, turbilhões, corrimões de palavras iradas, já há muito que estava esgotada a paciência e quase invariavelmente tendo como objectos de eleição a trupe de capazes, orgulhosas, melindrosas, apologéticas mulheres, que, confesso, me assustam como os membros de uma seita irada que invadiu as redes sociais e os media, os cursos de autoajuda e as networking, sempre com a mesma ideia base – ser mulher é um privilégio, uma honra, uma missão, mas desgraçadamente, a sociedade faz de nós vítimas e os homens só querem é que a gente vá para a cozinha descascar batatas e ver novelas.

Claro que quando revelo em público – leia-se: público feminino - as minhas reticências sobre o tipo discurso que faz o elogio de se pertencer a um género só porque sim, sou sempre lembrada que devo é estar calada porque  sou uma privilegiada (passei a vida a ser recordada disso, por ser branca, de classe média e de esquerda e, pelos vistos, mulher, ainda por cima magra) e que é importante recordar constantemente que muitas mulheres ainda são alvo de tortura física e psicológica, discriminação, violência de todo o tipo, porque são mulheres. Sim, o feminismo faz sentido, dizem-me, e eu transpiro. Pronto, cada um passa-se à sua maneira. Eu começo a ficar com as mãos suadas e a ter de trincar a língua, Longe de mim negar a evidência de uma sociedade dita europeia e civilizada onde ainda há abusos contra as mulheres ou não defender algo que não seja um discurso e uma acção na sociedade interventivo no sentido de mudar as coisas. Mas… bolas, agora chego à pedrinha no ténis que passa o dia todo a irritar-me. É que a questão fundamental, para mim, não é de ser mulher ou criança ou homem ou branco ou negro ou cristão ou muçulmano – violência é violência, abuso é abuso, e é perpetuada contra seres humanos. Faz-me confissão que essas duas palavras, seres humanos, sejam renegados para segundo lugar por discursos básicos que louvam e defendem os direitos de alguns por serem mulheres. Há seres humanos que são vítimas e antes de serem mulheres são isso mesmo – seres humanos vítimas da violência. O discurso de como é bom ser mulher, do orgulho em ter uma vagina em vez de um pénis, não faz aqui qualquer sentido – antes é tão discriminatório como o oposto. Ei, atenção: há dois géneros e a possibilidade de nascer num deles é de 50%. Que a pessoa esteja feliz como homem ou mulher, é bom, claro (poupa-se um processo sempre doloroso de mudança de sexo), mas que seja em si. Uma boa auto-estima é fundamental. Agora, fazermos a apologia do facto de se ter nascido mulher é per si perigoso: é que geralmente os elogios e apologias são sempre feitas tendo como ponto de comparação o outro lado da barricada, neste caso, os homens. Ora  isso não interessa nada, nem acrescenta valor a esta luta. Vamos deixá-los estar em paz e sossego (mesmo que para estas feministas eles sirvam para beber cerveja e dar-nos porrada) porque o nosso valor não vem do facto de termos mamas. Vem de sermos pessoas. E vamos lá deixar de falar dessa coisa tão feia que é o empoderamento. Qual empoderamento? Qual quotas para mulheres? Somos por acaso de tal forma diminuídas que precisamos de estar nos sítios por causa de quotas e não pelo mérito? Que tal focar-nos no que importa: fim à violência. Ponto final.


Já agora, Meryl Streep chocou as feministas ao dizer: "sou uma humanista",
Não é essa a resposta mais correcta? O que é o mundo a não ser pessoas? Não andamos a repetir que todos devem ser respeitados  independentemente da orientação sexual, da religião, da raça ou etnia e... do sexo?