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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Enquanto Somos Jovens: o que resta aos quarentões a não ser ter filhos, hem?




Algumas reflexões… Será que estamos condenados a sermos uns chatos rotineiros quando deixamos de ser jovens (e quando é que isso acontece ao certo?) Será que ter filhos é a única forma de preencher o vazio com a chegada dos 40? Será que todos os representantes da geração X são jovens intelectuais hipsters, adoradores de vinil e de cassetes VHS, que veneram roupas vintage?

Estas questões surgiram quando vi no outro dia, incitada por uma amiga mais velha, o novo filme de Noah Baumbach (realizador que me conquistou com A Lula e a Baleia (2005) e Greenberg (2010)), While We're Yong ('Enquanto Somos Jovens') com Ben Stiller e Naomi Watts, nos papéis principais - logo aí não ia nada contrariada, porque adoro os dois.


Acabada de chegar aos 40, o tema do filme parecia enquadrar-se na perfeição nas dúvidas e questões existenciais inerentes a esta etapa da vida. Parti com a esperança de uma qualquer 'revelação' e apesar desta não chegar,  fui apanhada no ritmo dos diálogos inteligentes, do humor que dispensa legendas e do retrato facilmente reconhecível dos 40, fazendo um uso bem-humorado de estereótipos (nada de mal nisso, porque é isso mesmo que se tratam – estereótipos, o reunir de algumas características comuns a uma geração e apresentá-las como produto acabado). Ri-me porque, tal como Cornelia e Josh, fiz a apologia de que não tinha filhos, mas tinha liberdade para tudo e depois nada fazia com a tal de 'liberdade? Também não apanhava de um dia para o outro o avião para Paris porque era sempre...complicado. Ri-me do fundamentalismo dos recém-papás, ou dos papás de 2015, quando ter um filho é um luxo que requer dedicação religiosa, em que as outras mamãs são os membros de uma seita assustadora, e compreendi perfeitamente o protelar constante do documentário de Josh, porque todos temos, aos 20 anos, mais do que tempo para terminar a grande obra, mas quanto mais os anos passam, mais esta se torna um bicho e sete cabeças porque já não tem de ser a grande obra, tem de ser 'a obra'.

E eis que surge o casal dos vintes, Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried), a viver à velocidade da fibra, a fazer o que lhe dá telha, e agora, não amanhã, somando viagens, festas, drogas, porque o que interessa é a experiência e o download de informação inútil sobre informação inútil naqueles cérebros, a apropriar-se toda a informação que circula livre e aparentemente sem dono e a ser artista, a editar filmes em dois dias, a manipular o real para os seus intentos, porque o real já é só real na medida em que serve o Eu, essa divindade que se apoderou da outra geração, a dos que são jovens, não o diabo, como remata Josh no final, apaziguado com os anos e com o novo projecto entre mãos… ser pai claro.







Mas ainda antes da coisa terminar a arrumar os cotas no seu papel de pais, já lá para o meio o filme começa a perder um pouco a piada e a inteligência (tirando a cena da moca com Ayahuasca). Talvez porque o realizador Noel começa a mostrar que está realmente é fascinado pelos jovens hipsters nova-iorquinos e pelo seu narcisismo descarado. De tal forma se apaixonou que esqueceu a história e os quarentões ficaram pendurados e com a única opção de se aliar à seita dos pais e mães. É pena, porque a ideia era gira e os atores excelentes. E o filme lança algumas pistas para uma reflexão sobre nós e os outros, os 'demónios' ou os jovens. Quanto à obra-prima... Fica para a próxima?

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