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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Interstellar: um 'ganda' filme de ficção científica

Não sou fã de ficção científica. Não me aquece nem me arrefece Não acho piada por aí além a nenhum dos novos filmes da saga 'Guerra das Estrelas', excepto os três primeiros, mas isso é porque são já vintage, e para mim o ‘Star Treck' é coisa de geeks. ‘2001 Odisseia no Espaço’, de Kubrick, não qualifica para esta categoria (demasiado conceptual) e ‘Blade Runner’ é, para mim, o ex-líbris do género.
Por isso – e porque não se fazem ‘Blade Runner’ por dá cá aquela palha -, geralmente quando assisto a um exemplar desta natureza, é sempre com um suspiro resignado de lá terá de ser, não podes ser sempre tu a escolher os filmes que se vêem nesta família, mas impossível conter o trauma que me ficou pelo tempo perdido a assistir ao 'Dia da Independência'. 

Por isso mesmo, ‘Interstellar’, com Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, foi um surpresa renovadora da minha esperança na ficção científica, prova absoluta que esta pode ser feito com algo mais do que toda a artilharia pesada dos meios técnicos, efeitos especiais atirados aos nossos olhos e que se esgotam em si mesmos e heróis estereotipados e musculados que vão salvar o mundo com armas e o Armagedão à mistura (atenção que a personagem de Matthew tem também como missão salvar o mundo, mas de herói típico pouco tem – Cooper é mais do estilo hero-next-door). 

O filme podia ter menos vinte minutos, é verdade, e não parece que a narrativa ou o efeito que a história tem em nós (sim, porque somos tocados no coração, piroseira à parte, em algumas cenas pai-filhos) fosse afectada, mas perdoa-se uma certa lentidão em determinadas partes. É que a visão de uma terra a finar-se, envolta em espessas tempestades de pó que contaminam os pulmões e obrigam a uma morte lenta, num cenário negro em que se esgota a comida e a esperança de sobrevivência de toda uma geração, ou a apoteose da viagem de Cooper para uma outra galáxia, em que o tempo se estica quase até ao infinito invertendo a noção de linearidade da física moderna, ou as visões de outros mundos, que nos soam tão realisticamente fantásticos, concebidas pelo realizador Christopher Nolan, ou a magistral interpretação de Matthew McConaughey, que nos redime e dá vontade de partir, de partir e de ficar ao mesmo tempo, partir para vivermos o que desejamos – não para salvar o mundo, porque, antes de mais, o que Cooper quer é viver o sonho de criança de ser astronauta -, e por fim, o argumento, inteligente e humano (como pode um filho envelhecer antes do pai e não enlouquecer?), tornam este um grande, grande filme.







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